Novo Houve uma mudança no diálogo Norte-Sul. Antigamente era assim:
— Ola, guapo.
— Raí.
— Tienes um cigarrito?
— Aqui está. Este foi proibido na minha terra porque estava matando los ratos, mas para vocês do Sur no hai restrições. Só não exale na minha direção.
— Mmmm. Tanks, rubio. (Cantarola, com a melodia de “Guantanamera”) “Quanto le devo, o, o, quanto le devo...”
— Eu boto na conta.
— Cierto. Bien que podias me dar una cojer de tcha, hein, gringo? Tenho dezessete filhos.
— Mas não tens marido.
— E com dezessete filhos, quem pode sustentar um marido? Dançamos?
— Devagar que eu não sou bom nisso. Vocês do Sul é que têm ritmo. Vocês são autênticos. Fazem artesanato. Passam fome. Têm muitos filhos. Nós, do Norte, perdemos contato com o barro da vida, entiendes? Eu, por exemplo, tenho uma mulher e 13 filhos. Vien a mi suíte, corazón.
— Da última vez usted disse que íamos nos casar e ser igual em tudo. Até me ofereceste uma aliança, para el progresso.
— Como sos caliente, chiuaua
.— Aiuto! Socuerro!
— Ninguém pode ajudá-la, mi periquito. Tens que fazer o que eu mando. Como vocês, pobres, são sensuais. Não resista, entre.
— Bonita a sua suíte. Olha essa mão, guapo.
— Oh yes, yes. Solamente una vez.
— Calma, deixa eu tirar a...
— Mmm. Este cheiro de frijoles. Dá-me tus maracas. Oh, yes...
— Ai! Ui!— Was it good?
— Disparas rápido, Buck. Não pude nem dizer minhas preces.
O novo diálogo é assim:
— Vien a mi suíte, corazón.
— (Bocejo)
— O que quieres dizer com (bocejo)? Depois que tudo que te dei, não me dás nada em troca?
— Como no? E mi matéria hermana?
— Matéria-prima.
— Era uma irmã para mim! Levaste-a por nada e me devolvesse transformada, manufaturada — irreconhecível! — por uma fortuna. Maldición!
— Calma, calma.
— Só quero ser tratada como uma igual.
— Ora, uma igual. Eres fecunda, maltrapilha e escancajada. Falas o inglês com sotaque e vês telenovelas chupando o dente.
— Sou assim porque, todos estes anos, fui na sua conversa. Sugaste meus sonhos e a minha juventude e me deixaste, sola y inadimplente, como um bagaço.
— (Cantando ironicamente) “Tangerine”...
— Sabe de uma coisa, rubio? Vaya con Dios.
— “Vaya con Dios”? Já não estás mais a mi lado, corazón?
— Tenho um encontro. Dá licença?
— Posso saber com quem?
— Ele se chama Hugo, é moreno e se dá muito bem com as crianças.
— Ora, beibi.
— Quer me largar?
— O que é isso, rã? Vamos conversar.
— Não me chamou de piolhenta? Pois então me larga.
— “Piolhenta” no bom sentido. Perdeu um pouco na tradução.
— Jô, hein?
— (Sedutor) Camone.
— Não.
— Você andou falando com o Amorim, é isso? Tudo isto tem a ver com subsídios agrícolas, acertei? Ora, sua...
— Olha que eu grito por socorro e desta vez vem gente!
Luis Fernando Veríssimo (Jornal " Globo", 18 de março de 2007)
segunda-feira, 19 de março de 2007
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